ISG E INETE organizam webinar sobre sustentabilidade na ótica

IN ÓPTICAPRO Edição 240, maio DE 2023

ISG E INETE organizam webinar sobre sustentabilidade na ótica

Com uma plateia composta por docentes, alunos, empresários e diversas personalidades ligadas ao setor da ótica, o Instituto Superior de Gestão (ISG) e o Instituto de Educação Técnica (INETE) promoveram a 8 de maio, em Lisboa, uma conferência dedicada às práticas ambientais e economia circular. No final todos sairam a ganhar, com a certeza de que há muito mais a fazer nesta área do que a reciclagem. A ÓpticaPro esteve também presente, como media partner do evento.

O primeiro a intervir foi Ricardo Ferro, professor do ISG. Sob o tema "A ética empresarial e a criação de valor partilhado", a sua apresentação focou aspetos tão dispares como as expectativas dos consumidores e a importância da tecnologia nos dias de hoje. "Não seguimos a recomendação dos economistas dos anos 50 de acharmos que a nossa salvacão espiritual é pelo consu-mo. O incrível para o século XXI é fazer diferente fazer melhor, por uma economia linear, explorar as matérias-primas, produzir, vender, usar e incinerar pela lógica de proveito, em que tenho uma renda mais estável pelo serviço que presto ao cliente, é mais interessante para o consumidor.

O maior negócio do século XXI, como a Google, é renovar anualmente uma licença, o maior desafio é transformar o negócio de venda de produto em "product as a ser-vice". Naturalmente há negócios mais fáceis para adotar este princípio, mas há que identificar necessidades e expectativas dos clientes e a partir daí desenhar soluções que incorporem mais circularidade e tecnologia digital de venda em cada negócio". Para Ricardo Ferro, o ideal seria no futuro conseguir programar as lentes e ajustá-las à medida da degradação da vista de cada um, o que representaria um salto enorme para a sustentabilidade. "Estamos a trabalhar para a descarbonizacão das economias, para a ética, os valores não são intemporais nem universais, estes novos valores da sociedade também vão induzir a novos hábitos de consumo, pelo que a indústria tem de ler estes sinais e adaptar-se rapidamente para encontrar respostas para os novos modelos de consumo, agindo com responsabilidade defender práticas laborais, respeitando direitos humanos e práticas ambientais e anticor-rupção, identificar as maiores oportunidades que vão surgindo, para desenvolver soluções e respostas às comunidades que servimos, o que poderá ser a base para a internacionalização, dado que a sustentabilidade é um campo de oportunidades e não de obstáculos”.

Fernando Tomaz, presidente na Associação Nacional dos Opticos (ANO) tem uma visão consentânea. "Os três pilares mais importantes da responsabilidade social são a economia, meio ambiente e sociedade. É muito importante aumentar a consciência junto das entidades oficiais, o que a associação tem vindo a fazer, em especial as necessidades da saúde visual.

Comunicar boas práticas na área da visão, delineando estratégias eficazes para corresponder às necessidades nesta área, como o cheque oculista, infelizmente ainda não aprovado pelo Governo". Porém, na parte da economia, o líder da ANO considera que estão sempre muito atentos aos programas financiados, prestando apoio aos seus associados. É importante a construção de um ambiente de corporativismo nos negócios, através de parcerias, criação de campanhas com o objetivo de obter maior valor do conhecimento do negócio, virado para o consumidor final. Na parte do meio ambiente, queremos estimular a criação de campanhas internas e externas que estimulem continuamente a utilização de práticas sustentáveis, consumo consciente, reciclagem, tratamento das águas no corte das lentes". A ideia defendida pela associação diz respeito à prática da responsabilidade social empresarial, no sentido de melhorar a imagem da empresa, gerando valor. "É necessário comunicar e promover boas práticas ambientais. Estamos num setor que com muita facilidade é acusado de interesses dúbios, não é isto que a associacão defende. tanto para os associados, como alunos e empresários. No fundo, conseguimos com uma política de responsabilidade social gerar sustentabilidade, inovação e manter o que é mais importante para os nossos associados e empresários, soluções para um mundo melhor”.

Henrique Nascimento, presidente da União Profissional dos Opticos e Optometristas Portugueses (UPOOP), abordou um tema sempre incómodo. *Tinha uma apresentação feita, mas quando vinha para cá decidi que não havia melhor tema para falar do que a ética. Dou um exemplo prático quando um indivíduo vai a uma ótica e faz um exame com um optometrista, decide não fazer os óculos nesse espaço, paga a consulta e leva a receita consigo. Quando chega a uma multinacional, é recebido por alguém que lhe diz não aceitar essa prescrição e que o melhor seria voltar a fazer um exame. Faz-lhe uma nova consulta, prescreve essa receita e essa pessoa volta à ótica anterior queixar-se dos óculos antes comprados. Isto é uma questão ética importante e fundamental, que ocorre todos os dias. A culpa é de todos. O que devemos preservar no que diz respeito à ótica em geral é algo que uma prescrição em caso algum deva ser posta em causa. Para os alunos que aqui estejam, o meu conselho é que uma prescrição nunca se deve alterar, é pessoal e intransmissível. Nunca vi este tipo de questões de uma forma frontal, mas eu gosto de falar de coisas incómodas. A ética é o respeito pelo outro, em qualquer atividade, seja na saúde ou noutra qualquer. A ótica está numa encruzilhada muito complexa, porque toda a gente faz o que quer e ninguém é chamado à responsabilidade". Com uma carreira invejável no setor, com mais de 40 anos de carreira, Henrique Nascimento assumiu fazer parte do problema, penitenciando-se por nem sempre ter conseguido encontrar soluções para o panorama geral do setor. "Reina o caos completo na ótica, porque por um lado temos universidades, um politécnico, entidades formadoras, mas não é ético que empresários continuem a promover pessoas que não têm aptidões para fazer certas práticas, o façam. A ética começa em todos nós, mas uns têm mais responsabilidades do que outros. Gostamos todos de falar em saúde visual, mas ainda não está escrito em regulamento nenhum, que a ótica é uma área da saúde. A optometria existe, mas re-gulamentada não está, pelo que qualquer pessoa neste país pode fazer o que quiser neste âmbito. Todos os anos recebo pessoas no ISEC que dizem que sem a formação necessária, fazem exames visuais. A ética é só respeito pelo próximo, pelo paciente. Mais do que não haver regulamentação na optometria, pior é não haver ética entre parceiros".

A Rui Motty, empresário e presidente da Associação de Apoio à Sustentabilidade da Ótica (AASO), calhou o encerramento da primeira parte do webinar, abordando as premissas que levaram à criação desta organizacão vital no panorama da ótica em Portugal. Têm ideia do consumo de água que se gasta num par de jeans? Em média dois a quatro mil litros. Todos nós continuamos a comprar jeans, apesar do impacto ambiental. Este é o momento cinzento da sustentabilidade, a que nem os governos centrais são capazes de gerar processos para tornar a sustentabilidade eficaz, incompatíveis com as práticas do dia a dia.

É importante poupar água, mas por várias razões, continuamos a não o fazer. O nosso setor tem uma responsabilidade muito importante nesta área, trabalhamos com uma enorme dimensão de utilização de água, setor maioritariamente composto por microempresas, daí termos pensado na promoção de parcerias. Nasceu então a AASO, que quer dar asas a fazer acontecer algo, desenvolver meios e processos para que o setor da ótica seja transversalmente mais verde sem radicalismos. Se todos nós num braco de diâmetro fôssemos mais humanistas, seguramente o mundo hoje não seria igual. A AASO, sem fins lucrativos. tem a intenção de se juntar a diversas enti- dades, para adotar mais comportamentos sustentáveis, criar a reutilização, desenvolver um cariz social. Este projeto, numa área que provoca micropartículas na água, resíduos de corte, precisa de uma maior obrigação ambiental para criar soluções ambientais de acordo com o mundo atual".

Tal como defendeu Rui Motty, todos temos de estar envolvidos para que se atinjam estes objetivos. Criar um caminho para tornar a nossa sociedade mais limpa, não apenas pela reciclagem, mas também pela economia circular, dar um novo uso aos materiais, à exceção das lentes. "Não somos uma associação para competir com nin-guém, mas para incluir todos neste processo, para que a ótica se encaminhe no caminho da sustentabilidade. Se conseguirmos introduzir estes valores, o respeito da sociedade será muito maior", finalizou.

Após um breve coffee-break, a segunda parte da conferência começou com as intervenções de Silvia Duarte e Ricardo Pimenta, em representação da Shamir Optical. "Responsabilidade ambiental nos processos de fabrico foi o tema com que brindaram os presentes, começando por explicar o que preocupa a empresa do ponto de vista ambiental, nomeadamente o consumo de plástico, de energia e de água e a produção de resíduos. Para tentar minimizar os gastos com energia, a Shamir garante procedimentos de shut-down nos equipamentos, iluminação do edifício em Led, variedade de velocidades nos motores, medição e correção de fugas de ar comprimido e prevê, ainda, a instalação de uma central fotovoltaica. No que diz respeito à poupança de água, a empresa faz a monitorização de consumos por departamento, a reutilização de água e aposta na inovação e tecnologia. Além disso, no futuro pretende usar água tratada na ETARI - água recuperada do processo de evaporação - para rega. Quanto aos resíduos, os responsáveis revelaram que fazem a reutilização de solvente e a segregação de caixas e de tecido não tecido, a par da aposta na trituração de plástico e cartão para a diminuição de volume. Futuramente, o propósito passa por segregar as aparas plásticas por índice e eliminar copos de plásticos ou em cartão para água. "E nosso objetivo ser uma organização mais sustentável", assumem, acrescentando que a sustentabilidade na ótica consiste em: triagem de resíduos, faturas eletrónicas para clientes, seleção de fornecedores certificados 14001, dar prioridade a equipamentos mais eficientes, definir procedimentos para reutilizar recursos e diminuir consumos e apostar em programas de retoma de óculos usados.

De seguida, António Amorim, diretor geral da Optivisão, falou sobre “As práticas do serviço na inovação sustentável, as quais podem aplicar-se a três níveis: Ambiental, pela reciclagem dos resíduos provenientes das lentes oftálmicas e lentes de contacto; Responsabilidade Social, com a recolha e doacão de produtos; e Económico. pela adoção de boas práticas na eficiência ener- gética". O responsável destacou ainda que, segundo o estudo da Consumer Products and Retail 23, "a maioria dos clientes - da faixa etária dos 18 aos 24 anos - mudariam para marcas menos conhecidas por serem mais sustentáveis. Mais de 50% afirma que partilha uma ligação emocional com produtos ou organizações que se percecionam como mais sustentáveis. A maior parte dos consumidores revelaram que comprar produtos sustentáveis os faz sentir mais felizes". António Amorim aproveitou para agradecer a oportunidade de participar neste encontro. Obrigado a todos os que tornaram este momento possível.

Obrigado ISG e INETE, em especial ao Dr. João Firmo, por nos desafiarem constantemente a parar e a refletir. Obrigado Prof. Dr. Ricardo Ferro, por moderar o debate e partilhar experiências. Foi uma excelente troca de ideias com alguns dos principais plavers e associações do mercado. O futuro comeca aqui".

Coube a João Firmo, professor do INETE, fazer o encerramento do evento. O responsável afirmou que "a sustentabilidade é transversal a todas as áreas", destacando o novo paradigma no negócio da ótica: commodity ou compromisso com o cliente (2016) e produtos ou servicos de ótica (2023) "Onde queremos estar na escala dos elementos dominantes?", "Onde está o valor acrescentado?" e "Onde está a sustentabilidade do negócio?" foram algumas das questões levantadas, explicando que "a sustentabilidade do servico passa pela valorização do serviço ao cliente" De seguida, expôs as orientações estratégicas de algumas marcas do setor: Orientação Preço/Servico (MultiOpticas, Well's, Fábrica dos Óculos e Indústria dos Óculos): Orientação Qualidade Técnica/Servico (Optivisão, Institutoptico, Conselheiros da Visão e Opticalia); Orientação Excelência Operacional (Optocentro Oculista das Avenidas e GrandOptical); e Orientação Cliente... Neste sentido, revelou que as marcas devem inovar na gestão do serviço, sempre com o foco no cliente. Para finalizar, realçou que há também a necessidade de sustentabilizar o ensino. Ou seja, "apoiar e patrocinar as escolas com eventos e meios técnicos; criar a oportunidade de trazer as práticas do conhecimento para a empresa através das escolas: promover a profissão e cativar os jovens num setor com elevada empregabilidade e conhecimento técnico, concluiu João Firmo, agradecendo a presença de todos.

 
Anterior
Anterior

ISEC Lisboa realiza “Pós-Graduação em Terapia Visual e Treino Visual Desportivo”

Próximo
Próximo

FLORBELA TIBÚRCIO E CRISTINA DELGADO: A ARTE E A ÓTICA NUM DUETO INSEPARÁVEL