FLORBELA TIBÚRCIO E CRISTINA DELGADO: A ARTE E A ÓTICA NUM DUETO INSEPARÁVEL

IN MILLIONEYES Edição 122, MAIO DE 2023

A OCCI chamou-nos atenção já depois de sabermos que Florbela Tibúrcio se dedicava aos destinos da optometria portuguesa há muitos anos. Esta inquietude foi herança familiar do pai José Almeida Tibúrcio, dinamizador do Oculista de Benfica e um dos fundadores da União Profissional dos Ópticos e Optometristas Portugueses. Aliás, esta herança estendeu-se ainda à vida profissional de Florbela, que ficou unida à ótica até hoje. O Oculista de Benfica foi o ponto de partida de uma amizade, do encontro de sonhos, entre Florbela e a sua atual sócia, Cristina Delgado. As duas optometristas congeminaram o nascimento da maravilhosa OCCI, um recanto sensorial de luxo, fundeado nos respetivos ideais e valores e onde trabalham a optometria e a ótica num ritmo muito singular e apetecível. Aliás, “perdemo-nos” também nós na simpatia destas mulheres de discurso feliz.

Texto: Marlene Maia |  Fotos: Ruy Coelho

Ou seja, de um lado a filha do proprietário que por via familiar aportou no setor e do outro a optometrista desde os 18 anos. Das suas partilhas e empatias, criou-se o Instituto da Visão, empresa no ramo da optometria. Mais tarde, fundaram a OCCI, uma boutique de ótica que rompe com todos os cânones e onde o objetivo é convidar o cliente a entrar e a permanecer. Assumem querer ser exclusivas e diferentes, fugindo aos grupos e às guerras de preços. O atendimento aqui é premium. E, cuidado!, ao entrar na loja dificilmente se compreende que se trata de uma ótica: as cores, o cosy, o decor e o acolhimento do espaço divergem do das ópicas convencionais e rapidamente o visitante se deixa envolver pelos estímulos confortáveis aos seus sentidos.

Claro que, cada aresta desta loja tem a arte expressa, arte que Florbela e Cristina desenvolvem fora das fronteiras da OCCI. Atrás da câmara fotográfica, Cristina Delgado tem um refúgio e a oportunidade de eternizar paixões na sua perspetiva muito própria. É nesta ferramenta que guarda as preciosidades das suas viagens, dos momentos da sua vida. Florbela, pelo contrário, está na frente do palco há mais de 20 anos. Transforma-se ao ritmo das personagens que encarna no teatro e liberta-se do cansaço das horas de trabalho. É ali, sob as luzes da ribalta que vive os seus sonhos… ser atriz profissional foi o que escapou, para já! Damos por isso páginas a duas óticas que nos ligaram à arte e nos envolveram num conceito de ótica aliciante.

É uma loja fabulosa esta, mas com uma postura muito particular. Qual a vossa definição de ótica e como se posicionaram neste setor?

Florbela Tibúrcio: Quando decidimos abrir esta loja, a ideia era criar um ambiente onde as pessoas se sentissem bem. Quase uma casa, um local de conforto. Não queríamos ser umais uma ótica de tons brancos, em que o visitante se sente quase esterilizado quando entra (risos). As pessoas dizem-nos mesmo que este é um local onde apetece estar, super acolhedor. É um espaço estilo boutique e houve até um cliente que nos disse que pensava ser uma loja de bombons! E nós gostamos disso. De surpreender.

A localização foi alinhada com a filosofia da OCCI?

FT: Por acaso a localização foi algo que simplesmente aconteceu. Digamos que foi uma oportunidade de ocasião.

Vamos começar por esclarecer os nomes associados a este espaço.

FT: Instituto da Visão é o nome da firma concretamente dita. A loja, decidimos que precisaria de um nome próprio. E escolhemos Occi, inspirada na palavra italiana occhiali ou óculos em português

Agora virando a conversa para as criativas da OCCI, quem eram a Florbela e a Cristina antes deste projecto? E como surgiu o Instituto da Visão?

Cristina Delgado: Nós trabalhámos durante muitos anos no Oculista de Benfica, em duas lojas diferentes. Somos ambas optometristas. E a partir de determinado momento já não nos revíamos mais no conceito em que estávamos inseridas. Então, começámos a comprar equipamentos e a tentar crescer na área técnica, com uma filosofia mais próxima daquilo em que acreditamos. Foi quando fundámos o Instituto da Visão, há 15 anos. Mais tarde, abrimos esta loja, a 13 de Janeiro de 2014, porque apenas fazíamos consultas, mas nós queríamos também experimentar a parte do negócio. Da compra e da venda.

Conte-nos o percurso da OCCI desde a inauguração, passando pelos melhores momentos e os mais desafiantes, até ao momento atual.

FT: O mais desafiante foi implantar a imagem da casa no início e depois a pandemia, em que tudo parou e vivíamos em incerteza.

CD: No meu caso a parte mais desafiante foi quando percebemos que, embora tenhamos aberto com mais colaboradores, na verdade, não precisávamos de tantras pessoas. E foi difícil num determinado momento tomar essa decisão e dispensar pessoal. No caso da pandemia, é claro que mexeu com o estado anímico de toda a humanidade, mas depressa se compreendeu que era só uma questão de tempo e iria passar. Eu e a Florbela somos muito positivas, temos sempre a ideia de que tudo se resolverá e vivemos num ambiente proativo e de esperança. Por isso, superamos bem esse momento.

Numa sociedade sempre mais digitalizada, esta forma premium de vender óculos será o futuro da ótica?

CD: Nós gostamos de nichos. Não queremos massificar. Ter 200 clientes por dia não é o nosso objetivo, porque isso obrigaria a que tivéssemos uma estrutura diferente, desenvolvendo acordos com seguradoras, voltando a trabalhar com grupos óticos… Não é isso que queremos. E eu acredito realmente que o futuro da ótica passa por isto, por haver espaços diferenciadores, para clientes mais exclusivos. Não podemos ser o supermercado e a boutique ao mesmo tempo. E nós, definitivamente, preferimos ser a boutique. Não entramos em promoções, nem em guerras de preços. O nosso cliente procura-nos, essencialmente, pelo serviço. Porque gosta de nós enquanto pessoas.

Cristina, sabemos que é apaixonada pela fotografia, o que não deixa de ser curioso, já que é uma disciplina também do olhar. Fotografia e optometria conjugam-se bem na sua vida?

CD. O meu sonho sempre foi a fotografia e mantenho como hobby desde sempre. Fotografo ambientes e não perco uma oportunidade para viajar e fotografar. É algo que me completa como pessoa, a par da ótica e da optometria.

Já a Florbela, sabemos gosta de estar – não atrás das câmaras – mas antes em cima dos palcos. Como surgiu esta paixão pelo teatro?

FT: Faço teatro pelo menos há uns 20 anos. É um hobby, mas seria um sonho profissional que nunca concretizei, porque era uma vida demasiado insegura e eu não quis arriscar.

Eu gosto muito de teatro. É o meu escape, às vezes, desta vida que não é muito fácil. Trabalha-se muito, são muitas horas e é uma dedicação que é muito grande.

Conte-nos um pouco mais

FT: Comecei por fazer teatro inserida num curso, num teatro pequeno perto do meu local de trabalho. Gradualmente, as coisas começaram a crescer. Actualmente, cerca de seis em seis meses, temos uma peça a decorrer. É uma coisa pequena, teatro amador, mas que é algo que me faz muito bem.

A Florbela é também associativista em prol da optometria. Como se envolveu e como espera contribuir para a classe em Portugal?

FT: Houve um grupo restrito de óticos que participou de uns cursos profissionais no exterior e que foram os pioneiros da optometria em Portugal. O meu pai era um deles: José Almeida Tibúrcio. Na altura, fundaram a União Profissional dos Ópticos e Optometristas Portugueses (UPOOP) e por sua vez a UPOOP criou a Escola Portuguesa de Ótica Ocular. A ideia da UPOOP é funcionar como uma Ordem dos Optometristas e, na ausência de legislação, o que a instituição faz é procurar dar formação e as melhores orientações. Envolver-me com esta causa foi algo que também herdei do meu pai e mantenho-me ligada até hoje.

E o que falta à optometria portuguesa, considerando que em termos científicos as universidades a têm colocado num patamar de excelência?

FT: O que falta, basicamente, é haver uma legislação que legalize a profissão do optometrista. Há um vazio legal que não proíbe nem certifica. Houve entretanto alguns mecanismos, como por exemplo uma vinheta que reconhece os que estão formados e, consequentemente, os que não estão. Estamos a trabalhar em estreita colaboração com o governo, mas ainda não conseguimos o avanço desejado.

E à ótica nacional, o que falta conquistar? Será o futuro o agrupamento dos negócios de ótica? Ou o trabalho para nichos, como o vosso?

FT: A tendência é a colaboração e a criação de grupos, com grandes unidades de compra e venda. Mas eu acho que há público para os dois tipos e, portanto, também para os pequenos nichos.

Vivemos na sequência de uma pandemia, com uma guerra em plena Europa, alguma instabilidade política no país e os negócios online sempre a crescer. Consideram que continua a haver clientes suficientes para nutrir tantas e tantas óticas existentes no mercado?

FT: Acho difícil. E por isso mesmo é que confiamos que o próprio mercado, a própria lei de oferta e da procura é que vai lapidar o panorama e fazer prevalecer apenas os empresários que trabalham bem e que merecem. Esses são os que vão sobreviver. Acreditamos que estamos no bom caminho: trabalhando honestamente, com verdade e a acreditar naquilo que fazemos.

Que sonhos têm para a OCCI?

CD: Estamos numa fase da vida em que sentimos já ter concretizado uma grande conquista: a fundação desta ótica e o nível que com ela atingimos. Agora aquilo a que nos propomos é a manutenção do negócio neste patamar de excelência, sempre com o objetivo de conseguir mais uma ou outra marca. Fora isso, desejamos ser felizes, ter uma vida calma, poder trabalhar com um sorriso na cara. E permanecer estáveis, oferecendo sempre o melhor aos nossos clientes.  

 

 
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