Optometria e Ciências da Visão: ensino e evolução
In ÓpticaPro edição nº264 (Maio 2025)
Optometria e Ciências da Visão: ensino e evolução
No últimos anos a Licenciatura em Optometria e Ciências da Visão tem-se tornado cada vez mais relevante, à medida que a consciencialização sobre a saúde ocular cresce e as novas tecnologias transformam a prática. Desde a sua origem, a formação nesta área passou por diversas etapas de evolução, refletindo não apenas avanços científicos, mas também mudanças nas necessidades da sociedade e até alterações no ensino.
A formação optométrica e a prática da optometria tiveram diferentes formas de desenvolvimento e diferentes taxas de progressão em todo o mundo. A formação é a fornecida em grandes centros de investigação universitários, bem como em escolas e faculdades independentes de optometria. Em Portugal, com planos de estudos desde a licenciatura até ao doutoramento, o curso de Optometria tem uma produção científica muito significativa, sendo responsável por uma grande parte da investigação em saúde da visão.
A formação em Optometria em Portugal tem uma longa história, com raízes que remontam aos finais da década de 80.
A formação universitária começou formalmente em 1988, com a introdução de cursos na Universidade do Minho (UM) e na Universidade da Beira interior (UBI). Estes cursos foram designados como Licenciatura em Física Aplicada – Ramo Óptica e marcaram o início de uma abordagem académica estruturada nesta área. Licenciatura essa que foi evoluindo e mudando de nome, estrutura e plano de estudos até se consolidar como Licenciatura em Optometria e Ciências da Visão (OCV).
De acordo com o Conselho Mundial de Optometria (World Council of Optometry) a optometria é uma profissão de saúde autónoma, habilitada e regulada (licenciada/registada), estabelecida em vários locais do mundo há mais de 100 anos. Como profissão, cresceu “a partir da educação em ótica técnica e refração tendo incluído a ótica visual, a anatomia e fisiologia ocular e o reconhecimento e tratamento de doenças e condições oculares anómalas. Como consequência desta evolução, a optometria ganhou reconhecimento, tornando-se regulamentada ― não só pelas entidades governos, mas também por conselhos profissionais ― e integrada em estruturas formais de saúde nos setores público e privado em muitas partes do mundo” World Council of Optometry (2025).
Uma das funções do Conselho Mundial de Optometria é encorajar e ajudar no desenvolvimento da formação optométrica e facilitar as revisões dos prestadores de educação por agências externas.
Criação da primeira licenciatura em Portugal
O primeiro curso de Optometria em Portugal, foi criado na universidade do Minho e na Universidade da Beira Interior, e surgiu a pedido de António Aguiar da Câmara, presidente da União Profissional dos Ópticos e Optometristas Portugueses (UPOOP) e Ribau Teixeira, professor e diretor a Escola Portuguesa de Óptica Ocular, que colocaram à consideração do Departamento de Física das duas universidades a criação de uma licenciatura que contemplasse a formação universitária e óticos e optometristas portugueses. Depois de lançado o repto aos departamentos das duas universidades, estas empenharam-se no projeto e criaram a Licenciatura em Física Aplicada – Ramo Óptica (LFAO), sendo lançada a 1ª edição do Curso, em 1988/89.
Logo no primeiro ano do curso, a procura foi grande, quer no caso da UM, quer no caso da UBI. A UM teve 32 alunos inscritos. “Tínhamos noção de que o curso era difícil, com um currículo muito exigente, mas o certo é que em 1993 se formaram os primeiros 10 licenciados”, referem Maria Ferreira e Sandra Franco (2016)1. Os dados revelam que ao longo dos anos, a Universidade do Minho tem vindo a ter um grande número de alunos inscritos bem como de alunos com cursos terminados. O número total de licenciaturas concluídas até então foi de 1318.
Também a UBI teve um grande número de inscritos no primeiro ano de licenciatura, mas “devido à dificuldade do curso”, apenas três alunos saíram licenciados. No total dos anos, a UBI contabiliza 853 licenciados em Optometria e Ciências da Visão. De acordo com Pedro Monteiro, diretor do 2º Ciclo em Optometria e Ciências da Visão da UBI, “a eficácia formativa do curso nos primeiros anos era muito baixa, porque era um curso de física puro, as unidades curriculares ligadas à optometria começavam no terceiro ano do curso, pelo que a dificuldade era acrescida”. Daí que o número de licenciados nos primeiros anos seja um pouco baixo.
Já em Lisboa, o curso chegou mais tarde, só no ano letivo 2014/2015 formando inicialmente cinco alunos. Até 2024, o ISEC totalizou os 140 alunos licenciados em Ótica e Optometria (LOO).
Evolução do ensino
De acordo com Maria Ferreira e Sandra Franco (2016), “a evolução, até à atualidade, da estrutura e do plano de estudos dos cursos caracterizaram o ensino da Optometria e das Ciências da Visão (OCV) está marcada por duas etapas importantes”, a criação da Licenciatura em OCV e as implicações do processo de Bolonha.
Em 1999, a UM autonomizou o ensino da Optometria ao criar a Licenciatura em Optometria e Ciências da Visão (LOCV), que substituiu a especialização anterior no curso de Física Aplicada. O curso reestruturado incluiu áreas científicas obrigatórias como Ótica, Optometria e Ciências Biomédicas, com uma duração de quatro anos letivos mais um semestre de estágio profissional.
Já Pedro Monteiro refere que só em 1997 é que a denominação do curso na UBI integrou a palavra Optometria. Nesse ano, o curso passou a designar-se Licenciatura em Física Aplicada (Ramo Optometria e Optotecnia).
Passados quatro anos, em 2001, o curso passou a designar-se Licenciatura em Optometria e Optotecnica – Física Aplicada, passando as disciplinas de Física a serem reduzidas progressivamente e a aumentar-se a componente de Optometria.
A partir de 2005, dá-se início em Portugal à implementação do Processo de Bolonha no ensino universitário português. Com essa implementação reduziu-se a duração da licenciatura para três anos, seguida por um segundo ciclo de estudos (mestrado), promovendo uma estrutura mais alinhada com os padrões europeus. Só nessa altura, por volta de 2006, é que a UBI criou a área científica de optometria, desaparecendo a área da física aplicada e passando o curso para a tutela da Faculdade de Ciências da Saúde. A partir dessa altura, o curso incluiu as áreas científicas obrigatórias como Ótica, Optometria e Ciências Biomédicas.
Evolução do número de licenciados e mestres
Tendo em conta os números, podemos dizer que a UM tem até à data 1318 licenciados e 192 mestres. Sendo que o ano com o maior número de conclusões de ciclo de estudos de licenciatura foi o ano de 2009. Já no que toca ao mestrado, o ano com o maior número de conclusões foi em 2013.
Relativamente à UBI, os dados mostram que até à data há 853 alunos licenciados e 203 que concluíram o mestrado.
Desde que o curso surgiu, o ano de 2007 foi o ano com maior afluência ao curso, com 66 novos alunos. De acordo com o diretor do curso, Francisco Brardo, esta alteração resultou da adaptação ao processo de Bolonha e passagem do curso para a Tutela da Faculdade de Ciências da Saúde (em 2006), tendo sido verificado um número significativo de alunos que se transferiram de outros cursos da UBI. Quanto ao mestrado, o ano em que houve maior número de conclusões foi o ano de 2013.
Já no Instituto superior de Educação e Ciências de Lisboa, 140 estudantes concluíram os seus estudos desde que o curso iniciou. O ano com maior número de conclusões foi o de 2016. Desde que o curso surgiu, o ano letivo 2014/2015 foi o ano com maior afluência ao curso, segundo a coordenadora do mesmo, Clara Pérez.
Referências
1. Ferreira, M. & Franco, s. (2016). Os 25 anos da Optometria e das Ciências da Visão na Universidade do Minho. A construção de Paradigma https://hdl.handle.net/1822/49270
2. Carneiro, V. (2015). Porquê Optometria?