Reportagem Millioneyes - XXVI Congresso

22 de abril de 2024

O congresso e o 2º Encontro Internacional de Visão e Desporto, organizado pela União Profissional dos Ópticos e Optometristas Portugueses, realizaram-se nos dias 15, 16 e 7 de março nas instalações do Sport Lisboa e Benfica e as mais recentes descobertas na área foram o tema em destaque.

Texto Célia Esteves

 

Durante três dias e de regresso à capital, o XXVI Congresso Internacional de Optometria e Contactologia voltou a realizar-se em simultâneo com o Encontro Internacional da Visão e Desporto. Depois da estreia na Cidade do Futebol, em Oeiras, há quatro anos, o encontro, na sua segunda edição, voltou a acontecer em simultâneo com o congresso, que no ano passado se tinha realizado na Figueira da Foz. Preferências clubísticas à parte, estes dias dedicados às ciências da visão aplicadas ao desporto contaram com oradores portugueses e espanhóis e casa cheia. Se na plateia os participantes procuraram conhecer as mais recentes descobertas na área, em palco os oradores apresentaram novos estudos. Resultados sempre com os olhos postos no futuro. Aliás, Henrique Nascimento, lembrou as palavras do professor Fernando Carvalho Rodrigues, a quem coube, mais uma vez, a honra de fazer o discurso de abertura do congresso. “Nós só temos futuro, o presente já passou. O presente já é passado. Temos de estar sempre a pensar no futuro, como o professor Carvalho Rodrigues disse”, referiu o presidente da União Profissional dos Ópticos e Optometristas Portugueses (UPOOP) para quem o tema é especial e por isso o destacou também na sua intervenção, que aconteceu no segundo dia do certame. “Gosto muito de falar no passado, até para vermos a evolução que vamos tendo. Falo do presente, do passado e do futuro”, revelou Henrique Nascimento certo de que “cada congresso é sempre uma novidade”. O Coordenador da Pós-graduação em Terapia e Treino Visual Desportivo do instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC) de Lisboa exaltou o facto de que os participantes usufruíram de “15 horas de formação contínua certificada”. “Cada vez, felizmente, há mais trabalhos, mais investigação.

Vejam-se as questões relacionadas com a miopia, há evoluções e depois tudo o que virá”, continuou o optometrista clínico lembrando que há 40 anos quando começaram “não havia um único optometrista” e agora têm “dois mil e não chegam”. “Continuam a não haver optometristas suficientes para a procura e temos de formar mais. O curso (licenciatura em Ótica e Optometria) tem 12 anos e tem capacidade para 25 alunos por ano. São poucos”, diz Henrique Nascimento explicando que é feito também um trabalho regular em parceria com Universidade Complutense de Madrid. Aliás, alguns dos oradores presentes são docentes nessa escola superior.

EM BUSCA DE NOVOS CONHECIMENTOS

Os avanços na miopia, a otimização da visão em benefício dos diferentes desportos, a Inteligência Artificial, as competências individuais de cada individuo seja na infância, seja na idade adulta estiveram em destaque nestes três dias do encontro onde havia muitos repetentes, mas também algumas estreias. Que o diga Andreia Calvário, de Bragança, que marcou presença pela primeira vez no congresso “Vim em busca de conhecimento e estes eventos são importantíssimos para isso”, referiu a jovem optometrista que na companhia Marta Araújo, de Loulé. Confiantes no futuro da optometria em Portugal, as duas conheceram-se numa Pós-Graduação que fizeram, e a optometrista algarvia, que já havia participado num anterior congresso desafiou a bragantina a marcarem presença em Lisboa. “Há aqui toda uma partilha de conhecimento que é muito positiva pra nós”, disse Marta Araújo. Depois de ter estado na Figueira da Foz no ano passado, o optometrista Pedro Lopo de Jesus, quis também voltar a marcar presença no congresso. “Estes encontros fazem parte do desenvolvimento, são úteis para aprendermos sempre mais e podermos evoluir na nossa profissão. É uma oportunidade para ter contato com outras realidades e outros colegas e sabermos tirar o melhor disso”, referiu o optometrista, salientando que gostava que a sua profissão “tivesse mais exposição”.

Quem também reconhece valor a estes encontros é José Polana, optometrista e sócio da UPOOP. Presente pela segunda vez, sente a falta de reconhecimento à profissão e que ações de dinamização como o congresso ajudam a “tornar os profissionais e o seu trabalho mais conhecidos”. Orgulhoso do percurso, conta que tem um filho que lhe está já a seguir as pisadas. “Já se formou e está todo entusiasmado. E é melhor que o pai”, confessa embevecido.

RECONHECIMENTO VS. REGULAMENTAÇÃO

Para o presidente da UPOOP, a par com a necessidade de reconhecimento da profissão de optometrista, que existe cada vez mais, “é inerente falar sempre de regulamentação”. Para Henrique Nascimento esse talvez seja um dos maiores desafios para o futuro. “as pessoas às vezes confundem reconhecimento com regulamentação. Nós temos reconhecimento, somos reconhecidos, mas nós temos é que ter uma regulação para não permitir a pessoas sem formação nenhuma que acedam à profissão”, adianta o professor, lembrando que “com a facilidade da emigração perde-se um bocado o controlo das coisas”. “São necessárias regras, é preciso que daqui para a frente só possa aceder à profissão que efetivamente tiver formação que achemos adequada. Existem dois mil optometristas com habilitação, mas tenho a certeza de que existem muitas pessoas que exercem sem habilitação e que não têm formação adequada”, refere, explicando que já esteve na Assembleia da República a pedir isso mesmo. “Quando falamos de regulamentação há uma tentativa de olhar para o lado, porque sabem que vai haver alguns anticorpos, para não criar muito alarido”, adianta o especialista, lembrando que “o optometrista é muito importante na otimização desportiva. Não estou a ver outro profissional que se dedique e que possa acompanhar um atleta dessa maneira”. E nada melhor do que marcar presença no congresso para estar a par das mais recentes descobertas na área, como aliás o professor Carvalho Rodrigues salientou à Millioneyes. “Reúne aqui um conjunto de pessoas, e especialmente de resultados verdadeiramente notáveis que estão no topo das necessidades que há para a visão, para a optometria”, disse recordando que Portugal foi pioneiro na optometria. No entanto, “aqui há um fenómeno que é a dificuldade económica. Nós fomos pioneiros, nós tivemos curos de optometria muito antes de Espanha só que em Espanha as universidades e tudo o que daí saiu, saiu com outro ritmo, porque aí há outro tipo de dinheiro e isso faz muita diferença”, conclui o cientista.

 

 
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